domingo, 8 de novembro de 2009

Poda

Chegou o frio e a chuva, um vento que corta e que transforma o Douro num solo de Count Basie, azul e cinza. Para mim o Douro do Outono e verdadeiramente a mistura de saudade da luz estival e de cores ásperas. Ao fim de um ano regressam os mesmos trabalhos nas encostas de Vilarinho dos Freires. Demos inicio a poda das vinhas tradicionais que muito sofreram com o calor extremo deste Verão e procedem-se as operações de limpeza de olivais. Antes do ano terminar já muito na vinha estará feito e a apanha da azeitona não tardará.

Ao fim de já quase sete hectares percorridos pelas mãos dos nossos podadores sobra uma sensação de dignidade naquele que é, porventura, o trabalho mais importante de todo o ano vinícola. Tudo o resto sobra deste acto primordial que leva novamente a um início penoso para o agricultor que olha, temeroso todo o seu sustento, uma viagem deslumbrante que sempre nos deixou maravilhados a cada olhar.

O trabalho fora da terra, à secretária, também já recomeçou. A nossa Quinta foi contemplada, entre centenas de concorrentes, pela atribuição de um software de gestão agrícola financiado pelo Proder, que iremos, em breve, pôr a uso para melhor eficiência de toda a nossa organização.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Artifício



"A margem esquerda dos rios não apetece tanto, seja porque o sol a procura em horas mais solitárias, seja porque a povoa gente mais tristonha e descendente de homiziados e descontentes do mundo e das suas leis. A região demarcada do Douro, que ocupa quase a sua totalidade a margem direita, prova pelo menos que o reflexo solar tem efeito no negócio dos homens e lhes determina a morada."

Vale Abraão - Agustina Bessa Luís

As primeiras chuvas

A árvore da vida - Klimt

As vindimas já lá vão e desde ontem que chove no Douro, uma chuva alegre que renova a esperança na vida. Este verão foi especialmente seco e quente e isso verificou-se tanto na colheita como no nítido stress de muitas videiras, levadas ao extremo, neste ano difícil.

Agora resta vê-las tomar os tons da terra, ver nesses montes uma tela de Klimt e regressar ao broto original. Em poucos meses serão como heróis de muitos anos de peleja, perfilados nos montes, à espera do sol da primavera.

Também para nós, novos projectos se vislumbram... mas para isso terão de esperar para ver.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Concha de Mosto

Vilarinho dos Freires (Vista do Recunco)

Partilho a panorâmica do alto do Recunco, sobranceiro a Vilarinho dos Freires, entre a sede da nossa Quinta do Barreiro e a curva do monte que vai abraçar Santo Xisto. É nesta mesma concha de mosto que já em 1771 se produzia o já afamado "vinho de carregação" como demonstra os depoimentos de vários agricultores e trabalhadores numa devassa promovida pelo Marquês de Pombal(1) depois da 1ª demarcação do Douro. Abraçam as nossas propriedades, comprovam a vetusta qualidade dos nossos solos, os Marcos de Feitoria do Alto do Carvalhal, do Vale do Fojo, da Seara e da Pressegueda.

Os olhos de Alvão

Vilarinho dos Freires (1933)

Domingos do Espírito Santo Alvão nasceu no Campo da Regeneração (hoje Praça da República no Porto), no seio de uma família da nova burguesia em 1872 e cedo demonstrou interesse pela fotografia. Especializado no retratismo e documentarismo, a sua técnica fazia uso do grande plano, bem como de enquadramentos médios e aproximados. Era reconhecida a sua capacidade de conjugar o pictorialismo com as exigências próprias de um documento etnográfico naturalista(1). Tornou-se porventura dos maiores fotógrafos portugueses do século passado. Esta fotografia faz parte, estou convicto, do resultado dos serviços da Casa Alvão ao Instituto do Vinho do Porto que lhe solicitou em 1933 o levantamento geral do território do Douro, trabalhos relativos à produção, transporte, engarrafamento e exportação do Vinho do Porto.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Rescaldo

Quinta do Barreiro (1957)

O primeiro dia terminou ainda cálido. Hoje ultrapassámos os trinta e cinco graus e Vilarinho dos Freires ardia debaixo de um céu carregado de nuvens ameaçadoras. A intempérie passou ao lado e amanhã, a bom ritmo, a nossa vindima prosseguirá. Não consegui deixar de assentar um registo entusiasmado da confirmação do meu palpite. O óptimo desempenho das boas castas de uvas brancas que temos em volta da casa da Quinta foram o véu hoje levantado que permite ter esperanças fundadas: este será um ano com bons graus alcoólicos em equilíbrio com uma produção média.

News Flash

A vertigem do Barreiro

A Quinta do Barreiro deu início hoje à sua vindima. É com grande expectativa que o fazemos, finalizando um ano em que a novidade é mais escassa mas com um potencial de óptima qualidade- As condições climatéricas que se fizeram sentir na zona da Régua durante as ultimas semanas permitiram um grau de maturação perfeito. É a hora!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Geografia de um Sonho


A Quinta do Barreiro engloba variadas vinhas, sob a gestão de Luís Pedro e Maria Margarida D. S. Quinas Guerra. Desde 2008, depois do falecimento do nosso pai, tomámos as rédeas daquele que é um sonho transmitido, um amor ao xisto. Somos proprietários de vários hectares nas melhores localizações, completamente mecanizadas, apetrechadas de bons sistemas de condução de águas pluviais e de infraestruturas sociais em profundas alterações. O Barreiro é a sede da nossa exploração, onde se situam as casas de habitação, as áreas sociais, os armazéns e lagares. Voltado para o Monte de São Pedro, a crista da Marialva esconde o abismo do Corgo, entre os dois montes. Do alto da Feiteira, até ao portão da Vinha da Fonte, voltada para Santo Xisto, nascem quatro minas de água e que sempre abasteceu a casa dos nossos bisavós que se avista no fundo da vertente em Vilarinho dos Freires. O Ribeiral observa toda a vertigem que desaba, encosta abaixo. Já situado na freguesia de Poiares, as duas faces do vale, uma pejada de castas brancas, outra de tintas, fitam-se num silencio cortado pelo ribeiro que as divide. Já em São João de Lobrigos, a nossa propriedade, a Quinta dos Calços Compridos estende-se voltada a poente, olhando o vale do Rodo e o Douro ao fundo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Instantâneo

Vilarinho dos Freires (1963)

Passaram-se quase 50 anos desde o ano de 1963, o ano em que é aprovado o plano do curso de formação agrícola, especialmente orientado para a vitivinicultura, atribuído à Escola Técnica da Régua, em começa a abertura da estrada que servirá a Barragem de Bagaúste, em que o presidente Kennedy é assassinado em Dallas e o PAIGC dá início a hostilidades na Guiné. Da varanda da Casa da Eira, na Presegueda, o Portugal queirosiano observa-se no vale do Tanha, contornando o povoado.

sábado, 5 de setembro de 2009

O Poema Geológico

Vinhedos (imagem picada daqui)


A Quinta do Barreiro insere-se na maior extensão de vinha plantada numa zona montanhosa, o Douro. De Mesão Frio até à raia fronteiriça, o Douro vive do abismo entre os altos e a única planura do espelho de água de um rio contido mas não domado. Bem perto da Quinta do Barreiro, inserido na vertente do maciço que sustenta as freguesias de Canelas e Poiares que lança sobre o rio Tanha, encontramos pequenos casarios como a Presegueda, a Pitarrela ou Santo Xisto. Pela fresca das encostas voltadas a norte serpenteia o caminho que liga Poiares a Vilarinho, pendente sobre ribeiros, contornando cada pedra, parando para descansar na soleira da Capela de Santo Xisto, na sombra dos primeiras casas do Cimo do Lugar. O Fojo do Lobo dá o nome a uma das elevações que se ergue em frente aos nossos socalcos e do alto da Feiteira as videiras empoleiram-se numa lâmina de terra íngreme, periclitante, sobre a rocha xistosa que desaba na água corrente. O Douro é feito desta convivência amarga entre o vaticínio telúrico e a vontade humana.

A casta

Malvasia Fina (imagem picada daqui)

A Quinta do Barreiro instituiu-se como um todo consistente após a reestruturação levada a cabo que permitiu a reestruturação das vinhas, agora todas em sistema de patamares, e a plantação de castas nobres da região do Douro.

As vinhas plantadas com castas brancas estão orientadas para poente usufruindo de uma exposição prolongada que permite obter vinhos brancos ricos em aromas, com óptimos niveis de maturação na altura da colheita e ainda assim frescos, capazes de rivalizar com os as versões mais pujantes dos vinhos brancos mais a montante na região. As vinhas plantadas com vinha de castas tintas estão plantadas viradas a nascente, norte e sul. Assim obtem-se uma boa capacidade de espraiar a colheita de acordo com o estado de maturação das uvas, rentabilizando o tempo dispendido na vindima. Este processo de reestruturação teve início em 1990, seguido de mais duas fases em 1994 e 1996.

São hoje vinhas jovens com grande vitalidade, de onde se colhem as castas mais características e mais genuinamente nossas como sejam a Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional, Trincadeira, Barroca e Tinto Cão, Malvasia Fina, Fernão Pires, Malvaria Rei, Rabigado, Viosinho e Côdega, entre muitas outras.

A Quinta do Barreiro apostou numa plantação variada que proteja o património das castas tradicionais da região, diversificando as opções do enólogo na elaboração de vinhos a partir das suas uvas. As próximas plantações a serem feitas em breve serão pautadas pelo mesmo objectivo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Terras com sumo

Vinhedos (imagem picada daqui)


Muito do Douro de hoje é o relexo de uma vivência lenta e sofrida. Vilarinho dos Freires não é excepção. É uma freguesia do concelho de Peso da Régua essencialmente rural, onde por todo o lado surgem vinhedos bem tratatos de gente com um orgulho visceral. Surgiu como um qualquer vilarinho dos tempos de Penaguião e assim se chamou até finais do século XII. A partir daí, acrescentou-se-lhe “dos Freires” com a chegada da Ordem dos Templários, que tiveram na freguesia um mosteiro, de que apenas existe a capela. Vilarinho dos Freires pertencia, em 1840, ao concelho de Canelas, que foi extinto em 31 de Dezembro de 1853, passando a integrar o concelho de Peso da Régua a que hoje pertence.

A Quinta do Barreiro nasce sobre esse terreno fértil em história e lenda. O Santo Sisto que apadrinha o lugar de Santo Xisto, reminiscente do latim Xystus e envolvido pelas nossas propriedades, tem eco noutras paragens do Douro. As nossas uvas amadurecem à sombra do Monte do Castro onde um povoado da Idade do Ferro cresceu dentro e fora de muros, estendido no planalto de Poiares, onde os Romanos mais tarde também se fixariam. Do meio dos bardos observa-se a tríade de colossos que faz do Douro uma singularidade de lonjura, gentes e de trabalho: As Serras de Montemuro, Marão e Alvão.

A Quinta do Barreiro é a marca de uma família no Douro e não desaparecerá enquanto cada muro, videira e oliveira se mantiver estoicamente sob o Sol quente e a Lua amena que todos os dias confirmam a nossa pegada.

Vindimas 2009

Vindima (imagem picada daqui)


Está quase chegada a hora de colher os frutos de um ano inteiro de trabalho. À sombra, estou certo de que contente, do meu pai, levou-se a cabo todo um ciclo que tem muito de reinventado e de renascimento. A Quinta do Barreiro prossegue hoje com os mesmos desafios colocados anteriormente com um novo ânimo e outras valências. Enquanto aqui escrevo prepara-se esta nova vindima, de um ano exemplar, com boas temperaturas, baixa presença de doenças da videira e um controlo de infestantes particularmente eficaz. Está praticamente concluída a formação específica a que nos propusémos para melhor gerir e expandir este que é um desígnio assumido com orgulho. Desenvolvem-se as infraestruturas das nossas propriedades e programa-se um futuro próximo. Dia 9 de Setembro fecha-se todo o trajecto que nos trouxe das agruras do Inverno ao doce cheiro a mosto do Estio.